Criança na área
Marisa Abel
HORA DA MUDANÇA
Trocar de escola no meio do ano letivo requer maior atenção e cuidados especiais para que a criança possa passar tranquilamente esta fase de adaptação
Diversos fatores levam à mudança de escola e, para as crianças, quando isso ocorre no meio do ano letivo, deve-se redobrar a atenção, pois as mudanças, quando não são programadas, podem gerar alteração de comportamento já que elas vão deixar de fazer parte de um grupo no qual estavam inseridas. Há também a troca de professores, metodologia, horários e colegas de classe.
A coordenadora do colégio E. E. Dom José Maurício da Rocha, em Bragança Paulista, Luciana Zandoná Mourão, destaca que há pontos positivos, tais como conhecer novos amigos e ter novos meios de convivência, mas o desconhecido, a insegurança quanto ao novo e o medo da rejeição são pontos a serem trabalhados. Um fator importante é amenizar a ansiedade, assim a criança pode ficar mais segura.
Viviane Verdaska, coordenadora do Ensino Fundamental do Colégio São Luis, em São Paulo, informa que o primeiro passo para encarar esse início da melhor forma deve ser dado pela família. “Os pais precisam preparar seus filhos para a mudança e acompanhar todo o processo. A escola deve cuidar do bem-estar emocional do novo aluno – a criança tem de se sentir bem acolhida e motivada. Por isso, ela precisa de atenção. O bem-estar emocional pode ser gerado a partir da atenção que se dispensa ao aluno, seja na gentileza em recebê-lo, seja na preocupação em ouvi-lo contando sobre uma história, por exemplo. O acolhimento que o aluno receber vai ser fundamental para a adaptação dele no futuro”.
Joana Gonçales Gaspar passou por um momento atribulado quando, por questões financeiras, teve de transferir o filho de 7 anos de idade (Gabriel Gaspar) de uma escola religiosa para uma pública. “Essa mudança foi muito importante para o Gabriel, às diferenças eram muito grandes e ele não se adaptou. Foram meses difíceis nos quais ele ficava doente quase todos os dias só de pensar em ir pra escola”.
Com o rendimento escolar em baixa e meses seguidos de insatisfação, Joana resolveu a questão ao receber uma bolsa de 60% do colégio anterior, e seu filho voltou ao desempenho normal após retornar para a escola na qual sempre estudou. “Mandei uma carta pedindo uma bolsa ao diretor da escola, e ele não recebeu, mas quando ficou sabendo que o Gabriel (um ótimo aluno) havia saído, quis trazê-lo de volta” relata.
Mas nem sempre é a mudança a responsável pelas baixas notas. “Toda mudança gera na criança um período de adaptação social, emocional e pedagógica. É preciso observar atentamente o aluno durante esse período para não confundir adaptação com dificuldade escolar, pois nem sempre isso tem relação”, diz Viviane Verdaska.
NOVOS HORIZONTES
A jornalista Fernanda Langhammer passou recentemente por um desafio ainda maior, no meio deste ano, ela e a família se mudaram de São Paulo para o Bahrein, nos Emirados Árabes. “A mudança de escola aconteceu junto com a troca de país, portanto, além de lidar com um novo ambiente escolar, minha filha de 6 anos de idade (Cecília Langhammer Lermen) também teve de se adaptar a uma nova cultura e língua”.
Fernanda relata que o primeiro dia de aula na escola nova foi como entrar numa porta sem saber o que vai achar do outro lado. “Apesar de que, quando fazemos a visita, conhecemos a proposta da escola e seus valores, ainda é algo subjetivo e o primeiro dia de aula torna tudo real, as paredes, as cadeiras, o rosto da nova professora e colegas e se conhece a rotina., fundamental para que a criança se sinta segura. O maior receio da Cecília estava no fato de não saber o que ela precisava fazer; após conhecer a rotina, o receio do primeiro dia vai embora e a adaptação começa a acontecer gradativamente.
A jornalista diz que a maior preocupação estava com a comunicação, já que se tratava de outro idioma. Depois do primeiro dia de aula, Cecília esboçou sua vontade: “Eu queria que minha ficasse na sala para me ajudar a falar, eu gostei muito da minha nova escola e quero voltar todos os dias”. Esse começo positivo aconteceu porque houve por parte dos pais e dos professores uma preparação para a mudança, baseada em muito diálogo.
“Depois que acabou o primeiro dia de aula, ela viu que mesmo não compreendendo tudo o que era dito, ela poderia se divertir. Conhecer o espaço, os colegas, a forma como as professoras se comportam com as crianças e, principalmente, vivenciar a rotina da nova escola foi fundamental”, diz Fernanda.
Uma dica de Viviane, que é utilizada no colégio onde trabalha, é a preparação dos colegas para receber o novo aluno. “Temos como estratégia anunciar aos colegas a chegada do novo amigo alguns dias antes, sensibilizando a turma para recebê-lo. Isso gera uma expectativa boa na turma e uma vontade de ajudar aquele que está chegando. Além disso, o professor escolhe “um padrinho” por dia, durante uma semana, para acompanhá-lo em tudo: recreio, saída e demais situações. É muito importante que esse aluno permaneça acompanhado para não se sentir sozinho. Tal estratégia tem propiciado adaptações tranqüilas aos recém-chegados”.
O rendimento escolar também gera a necessidade de escolher um novo ambiente de aprendizado e trocar de escola pode ser uma alternativa para a melhora do aluno que, por algum motivo, não tem demonstrado bom desempenho. Luciana Mourão diz que muitas vezes o ambiente que não é favorável para a criança dificulta a aprendizagem, e ela não consegue se adaptar ao meio e se enturmar com os colegas.
Viviane Verdaska complementa dizendo que, quando a criança começa a apresentar problemas, não quer ir para a aula, está insatisfeita ou desmotivada, é hora de questionar e tentar descobrir os motivos: perguntar o que está acontecendo e o porquê da insatisfação é o primeiro passo. Dialogar com a escola é fundamental. “Apesar de muitas instituições possuírem um ótimo sistema de ensino, o fundamental é avaliar a felicidade da criança e observar se essa é a escola ideal para o perfil daquela criança e família”, conclui a pedagoga.
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